domingo, 2 de fevereiro de 2014

Cuidando de idosos em família

Imagem: Secretaria de Saúde da Bahia


"Você verá a minha vida através dos seus olhos assim como a sua vida será enxergada através dos meus. O filho se torna o pai e o pai se torna o filho"

Quando o ciclo da vida bate à nossa porta...

Eu não pensei que um dia cuidaria de idosos. Não que não ache certo cuidá-los, pelo contrário. Acho que devem ser amparados pela família e que a maturidade e a experiência têm que ser valorizada, temos muito a aprender. Mas, por questões familiares que, no momento, não vem ao caso, achei que por aqui isso não iria acontecer. Só que foi necessário e tive que tomar a frente da situação (com o auxílio do meu irmão), para o bem estar físico e mental da pessoa. No caso, minha mãe, que é portadora de câncer e, devido à doença e a sequelas do estilo de vida que levava, entrou num estado de senilidade avançado, apesar de ter apenas 66 anos.

Atualmente, ela se encontra hospitalizada (hoje já passou do CTI para a unidade semi intensiva, acabei de receber informações), por conta de complicações próprias da doença, causando muita preocupação, pois seu estado de saúde inspira muitos cuidados. Peço que, para ela, aconteça o melhor e o mais confortável e, de nossa parte, estamos adaptando ainda mais a casa, para recebê-la na volta.

O interessante, do ponto de vista de pais com filhos, de ter idosos em casa, sem dúvida, é o exemplo que fica para as crianças, de respeito ao idoso e de como a vida, naturalmente, acontece. Como tudo em família, nada ocorre sem traumas, mas pode, sim, ser gratificante para todos.

Durante esses meses (desde julho) que minha mãe está morando conosco pude estabelecer um método que serve tanto para mantê-la ativa e confortável, quanto para facilitar nossas vidas. Pode servir de dica para quem está passando pela mesma situação e não sabe por onde começar:


  • Tem que ser estabelecida uma rotina. Assim como para nós, assim como para as crianças. A rotina ajuda no sono, na alimentação e no quadro mental, além de impactar menos no dia a dia da casa. Aqui, além de minha mãe, somos dois adultos, dois adolescentes, uma criança de 4 anos, mais 5 gatos e uma cachorra. Cada um com suas necessidades e compromissos. Para tudo funcionar bem, a casa tem que estar organizada e uma rotina tem que ser seguida.



  • A casa tem que ser adaptada. Nada de tapetes que ofereçam risco, móveis com pontas que possam machucar ou mesas de centro (aqui já havia sido retirada por causa das crianças). Nos banheiros, é desejável a instalação de barras de apoio, para banho e uso. Se houver escadas, deve ser instalado o antiderrapante e ter corrimões.



  • Não deixar o idoso apático, o que é comum de acontecer, especialmente se for uma pessoa que esteja contrariada por estar dependente ou em situação que não considera ideal. Estimular com conversas, leituras, passeios... Não ficar só na monotonia de solzinho de 10 minutos, televisão e cama. É preciso estimular a mente.



  • Não isole o idoso no ambiente que foi escolhido para ele. Ele deve interagir com a família, em todos os momentos. Claro que se ele quiser sossego, respeite, mas a interação é fundamental e benéfica.



  • Incentivar o idoso, caso consiga e dentro de suas possibiliades, a fazer coisas sozinho, preservando sua autonomia.



  • Muitas vezes é necessária a contratação de cuidadores e enfermeiros. Cheque bem as referências do profissional, questione suas qualificações, investigue. Além de ser uma pessoa que passará bastante tempo em sua casa (muitas vezes sem a sua presença), tem as questão do bem estar e da segurança do idoso.



  • Todos na casa e também os familiares que não residem no mesmo local, dentro de suas possibilidades, podem e devem se envolver e ajudar no cuidado. Assim, evita-se que somente uma pessoa fique sobrecarregada e também há a desejada integração.



  • Se necessário o uso de fraldas, dobre os cuidados com a higiene, especialmente se for mulher, por causa do risco de candidíase.



  • O idoso normalmente tira mais cochilos, mas deve evitar trocar o dia pela noite, para preservar a imunidade e diminuir o risco de acidentes.



  • Idoso não é sinônimo de criança ou mentalmente incapaz. Mesmo que tenha limitações de diversas ordens, dirija-se a ele como adulto.



  • Sempre que possível, tenha o acompanhamento de um bom geriatra.


Existe ainda a questão lar geriátrico x casa, que é delicada e tem que ser decidida com lucidez pela família, sem falsos moralismos ou culpas. A principal (e ampla) pergunta é: "Vou conseguir cuidar de forma adequada"? E o fato de uma eventual opção por lar geriátrico não é sinônimo de abandono. Claro, aqui vale o mesmo que para cuidadores e enfermeiros: checar em detalhes todas as referências.

Felizmente, com os avanços da medicina e com a maior conscientização em termos de higiene, alimentação e prática de exercícios, cada vez mais os idosos vivem mais e melhor. Muitos preferem preservar sua intimidade e autonomia morando sozinhos, outros, precisam ou querem conviver com familiares. O importante é respeitá-los e ampará-los, em caso de necessidade, nunca abandonando os que, lá atrás, cuidaram de nós.
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