sábado, 4 de fevereiro de 2012

A boa Escola Pública ainda existe

Eu estudei em escola pública até o 4º ano (antiga 5ª série do 1º Grau). Meu marido estudou em escola pública a vida inteira. Em outras épocas, estudar em escola pública era sinônimo de ensino de qualidade. Hoje em dia é última opção, para quem pode ter opção.



Por uma rasteira dessas que a vida nos dá, neste início de ano me vi forçada a não renovar a matrícula dos meus dois filhos mais velhos na escola particular que eles frequentam e a colocá-los para estudar em escolas públicas. Minha primeira reação, motivada pelas notícias que temos a respeito e por preconceito, assumo, foi de pânico e revolta, simultâneos. Cheguei a cogitar a ideia de deixá-los por um ano em homeschooling, estudando em casa, sob minha supervisão, mesmo sabendo que isso, pelo ECA, é ilegal em nosso país (o que considero absurdo em relação ao direito de escolha dos pais quanto à educação dos seus filhos, mas isso é assunto para outro post).

Mas isso não foi feito, pois ouvi meu marido, que era contra a ideia e também fui aconselhada pelas divas amigas. Foi decidido que eles seriam matriculados na rede pública. Primeira dúvida: como faz matrícula, ainda mais nessa época do ano (era final de janeiro)??? Já estava nos imaginando dormindo em filas...

Não foi o que ocorreu. As escolas foram escolhidas pela internet, na página da Secretaria Municipal de Educação para esse fim. Conseguimos escolas perto, embora cada um tenha ficado em uma escola diferente, por serem de segmentos distintos (Fundamental I e II). Uma na rua detrás de casa e outra muito bem conceituada entre as escolas públicas do Rio, segundo pesquisamos. Na semana seguinte, já deveríamos comparecer à escola com documentos para confirmar a matrícula. Mas eu ainda estava desconfiada. Estava muito fácil, sem burocracia, sem lista de espera...

No dia 23 de janeiro comparecemos às escolas, primeiro na do Pedro, que vai para o 4º ano. Quis chegar cedo, imaginando filas e caos. Cheguei na porta da escola, pintadinha, direitinha. Lá dentro, tudo "nos conformes". Fomos super bem recebidos e atendidos. Esquecemos de levar o número dele impresso, com a comprovação de matrícula feita pela internet. Mas não precisou, porque o nome dele já estava na lista. Documentação ok, ficou faltando a foto para o Riocard, que foi tirada outro dia, também com muita calma. Com o Dani, mais velho, a mesma coisa. Matrícula ok. Não gastaremos um centavo com uniforme, material escolar e mochila, que serão fornecidos pela Prefeitura (e os kits são uma gracinha, como pude constatar).

Ontem foi a reunião de apresentação no auditório da escola do Dani, que irá para o 6º ano. O que encontrei por lá foi uma diretora e equipe extremamente comprometidos com seu ofício e com o bem estar dos alunos. A escola dele (e também a do outro) estão em um projeto piloto de horário estendido, com mais tempo de aula (no caso do 6º ano, 7 tempos de aula) e várias atividades extraclasse. A escola conta com laboratório de informática, wi-fi, as aulas serão ministradas com netbooks para os alunos, todas as salas têm datashow, existem aulas de reforço, estudo dirigido, práticas esportivas, música, além das crianças fazerem três refeições na escola: café da manhã, almoço e lanche. Aos sábados, em parceria com o Governo Federal, haverá oficinas de artesanato, música, esportes, reforço escolar e recreação para alunos e comunidade. Não creio que sentirão dificuldades ou falta de nada. Tirando o luxo ao qual estavam acostumados, desde a Ed. Infantil, nas escolas particulares que frequentaram, tudo ficará igual (ou melhor, dependendo do ponto de vista). Se tudo isso vai funcionar perfeitamente eu não sei, mas a intenção deles é das melhores e, pelos índices dessa escola, confio que as metas serão atingidas.

E, observação extremamente importante: as escolas municipais do Rio de Janeiro não têm progressão continuada. Os alunos têm que fazer provas e são avaliados para poderem passar de ano. A aprovação não é automática.

Saí de lá emocionada e até meio envergonhada, por ter ficado tão triste nos últimos dias, por ter que tirá-los do colégio de alto nível que frequentavam. Fiquei com vergonha porque, em vez de ter ficado triste, deveria estar agradecida por meus impostos estarem sendo tão bem aplicados (Ok, eu sei que é obrigação... Mas sabemos que em nosso país não funciona bem assim...). E também estou agradecida por meus filhos terem o privilégio de estarem nessas duas escolas de ponta. Que esses "privilégios" se multipliquem por todas as outras, para que todas as crianças de nossa cidade (e de nosso país) possam ter acesso a tudo isso gratuitamente e com dignidade, como meus filhos estão tendo. Torço por isso e, como contribuinte e mãe de alunos, vou fazer a minha parte, cobrando, exigindo e contribuindo com o que estiver a meu alcance. Vou ficar de olho e usar meus recursos para apoiar e criticar, quando necessário.

Educação é um direito de todos e deveria ser assim para todos, sem distinção.

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