terça-feira, 19 de março de 2013

Qual a cor do seu ovo? Qual o sabor do seu suco? Você tem sede de que???

Durante a semana passada, as redes sociais foram assoladas com polêmicas ligadas ao consumo. Uma a respeito da divisão por gênero que o Kinder Ovo começou a fazer com seus ovos de Páscoa, discriminando o que era brinquedo de menino e brinquedo de menina no recheio. A empresa Ferrero, fabricante, foi acusada de sexista. Outro assunto bastante discutido foram os problemas encontrados na bebida à base de soja Ades, fabricada pela Unilever, além de fungos na caixa do suco Dell Valle Laranja Caseira, fabricado pela Coca Cola. Tudo isso coincidiu com o evento "Nestlé Lancheira Saudável", com dicas de cardápios para o lanche dos pequenos.

Especificamente quanto ao Kinder Ovo eu, como mãe e como consumidora, não gosto. O chocolate é de qualidade ruim, tem muita gordura, o peso não compensa o preço e os brinquedinhos que vem dentro são, às vezes, desanimadores. Meus filhos já se decepcionaram. E não pensem que na versão "sexista" isso mudou. Os brinquedos "de menino" até são legaizinhos, principalmente a árvore de montar. Por que isso foi classificado como "de menino" eu não sei. Menina não pode montar uma árvore??? o.O E se fosse um carrinho?? Já a versão "de menina" é decepcionante. Bonequinhos inexpressivos e brinquedos muito sem graça. Não aprovado! A desculpa mais frequente é de que agora podemos escolher melhor pelo brinquedo. Mas isso poderia ser feito de outra forma... Sem contar que na embalagem mostra as opções de brinquedos para aquele gênero, mas não quer dizer que a criança vá gostar do que virá, porque ainda não dá para escolher.

Além disso, eu achei um desserviço. Criança não tem preconceito, criança quer brincar. Quem cria o preconceito na cabeça delas, com essa divisão "para menino", "para menina" são os adultos e a indústria contribui mais ainda, deseducando de vez, em vez de usar o grande poder que tem em mãos para dissolver de vez essa divisão sem sentido.

Memê raivoso, mas com algum sentido, que circulou pelas redes sociais.
Outra questão, muito mais grave do que o "sexo" dos ovos, surgiu após os recalls e ocorrências referentes às bebidas embaladas em Tetra Pak, especialmente o Dell Valle Laranja Caseira (fungos nojentos encontrados no fundo da caixa, o que vem acontecendo de forma recorrente em várias marcas) e, o pior de de todos, o caso do Ades, onde havia material de limpeza (soda cáustica, veja aqui) nas embalagens, podendo causar inclusive queimaduras, que culminou com a proibição da venda do produto

Esse, sem dúvida, foi o que melhor sintetizou a situação.

Surgiu com isso uma excelente oportunidade de discutirmos nossos hábitos de consumo e isso está sendo feito, mesmo aos trancos e barrancos e com frases sem sentido, como por exemplo foi dito, por algumas pessoas no Facebook, que estavam preocupadas com a vida sexual de quem divulga os recalls do Ades e de outros produtos que dão problemas e prefere suco natural a sucos industrializados. Ora, a rede social não serve somente para oba oba. Serve para passar informações, para abrir discussões, para tentarmos melhorar nossa qualidade de vida. Acho que está havendo uma grave inversão de valores aí. Quando me manifesto, não é panfletagem. É como consumidora insatisfeita com a apresentação do produto. Produto que eu, até pouco tempo atrás, consumia e que muita gente ainda consome.

Não acho que isso seja radicalismo, como foi alardeado. Essa discussão é saudável, ela tem que acontecer, mesmo que não seja unanimidade (e nem essa é desejada). Hoje questionamos e discutimos, antes não se discutia, se comprava e pronto. E é isso que está mudando. As pessoas estão mudando e forçando o mercado a mudar, a trabalhar para elas, não somente empurrando mercadorias, com a desculpa e aval de uma pesquisa que muitas vezes não mostra a realidade, pela amostragem limitada e por resultados manipulados.

Dá para fazer produtos sem porcaria, dá para plantar sem colocar veneno, sem desmatar. É só o lucro desenfreado não falar mais alto. Devemos sim gerar dinheiro, movimentar nossa economia, mas dá para fazer isso de outra forma, sem nos agredir e sem agredir onde vivemos. A mudança não vai partir da indústria, que quer muito lucro com pouco custo. Vai partir de nós, que vamos exigir que, se quiserem continuar a vender para nossas famílias, que se adequem.

viversempremelhor.blogspot.com

Acho que ninguém em sã consciência quer consumir produtos que fazem mal, por livre e espontânea vontade... Consome porque foi convencido que aquele produto é mais cômodo, economiza tempo, é mais gostoso, é mais higiênico. E não é. Isso é mentira! Dá para ter uma alimentação equilibrada e gostosa prescindindo da grande maioria de itens que a indústria nos oferece, é só termos a boa vontade de tentar fazer diferente. Pela nossa saúde e pela saúde de nossa família. Espremer um limão, uma laranja ou passar um maracujá no liquidificador não toma tanto tempo assim. Água de coco vem pronta, é só abrir o coco. Existem garrafas térmicas. Existe alho, cebola, ervas e pimenta do reino, não sendo necessários cubos de glutamato para saborizar a comida. E por aí vai. É só querer. É só tentar.

Falo por mim e por mães próximas a mim. Não somos dondocas. Eu tenho três filhos, dois gatos e uma cachorra, trabalho, estudo, leio, converso pessoalmente e pela internet, tenho amigos, passeio, tenho marido (e namoro com ele, rs). Optar por prescindir da maioria dos industrializados não me faz perder mais tempo nem uma radical sem vida. Na verdade, no cotidiano não muda nada. Muda no sabor dos alimentos que ofereço e na nossa saúde.

De repente, em vez de criticar e achar que não tem tempo, você não gastaria tanto com médico e remédios se seu filho tivesse uma alimentação melhor. Nem perderia tantas horas preocupada num pronto socorro.

A pessoa pode querer experimentar. Querer ser melhor. Eu já consumi muito industrializados e fast food e ainda utilizo alguns, só que reduzi ao mínimo necessário, ou por gostar realmente do produto. Não vou deixar de fazer supermercado. Agora, dizer que vai perder tempo espremendo uma fruta, ou cortando em pedaços para comer, é um pouco demais.
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